Infinite Bullet

INFINITE BULLET

       

      “Um formigueiro” seria a melhor expressão para descrever a multidão que se remexia dentro do prédio onde acontecia a ExpoGW 2027, uma das maiores feiras de games do mundo. Arthur e seus amigos sentiam um entusiasmo correr pela espinha. Tanto ele quanto James e Julie, queriam aproveitar o máximo desse dia e ver a maior quantidade de novidades e jogos que fosse possível.
— Não pretendo perder nada dessa feira! — Disse Arthur, determinado.
— Quero experimentar o VR logo, vamos começar com eles! Eu e a Julie não aguentamos mais esperar.
— Não aguento mesmo! Finalmente vamos conseguir jogar jogos decentes de imersão total, e finalmente lançaram o jogo daquele anime pra Skydiver. Se eu não jogar ele vou explodir!
— Melhor não corrermos esse risco e começar por ele então.
Assim, entre risos, os três jovens do ensino médio percorreram a seção de jogos de imersão total, onde a Realidade Virtual faz valer seu nome através do estimulo completo de todos os sentidos do corpo, aproveitando os esperados jogos de VRRPG que só agora (após dois anos do lançamento da tecnologia de imersão) começavam a aparecer.
Entre duas áreas de jogos de tiro em VR notaram um estande discreto, no qual não havia fila. O expositor animado chamou a atenção do trio.
— Hey, vocês três! Não querem experimentar um novo jogo em VR? É a tecnologia mais inovadora que vocês vão ver nessa feira, exclusivo da Indústria Zeelins.
— Zeelins? Nunca ouvi falar dessa desenvolvedora, você já ouviu Thur? — Perguntou Julie enquanto analisava o letreiro de neon azul-piscina.
— Ouvi muito pouco. É uma empresa nova que acabou de entrar no mercado, não me lembro direito.... Ela só desenvolve softwares ou consoles também? — Perguntou ao homem esguio que os convidava a chegar mais perto.
— Temos nosso próprio console FullDive (Imersão Total), e um jogo exclusivo que vocês podem testar. Não querem entrar para conhecer?
Os três se entreolharam e James falou, com um sorriso:
— Ah, a gente não queria perder nada, vamos ver esse jogo também.
Assim, entraram no estande iluminado por neons azuis e laranjas da Indústria Zeelins, havia, também, uma luz branca que vinha das vitrines com produtos à mostra.
— Esse é o Kairós, nosso console. — Disse o homem apresentando o capacete cúbico preto e verde com o nome “Kairós” escrito em prata.
— Ele é bem mais robusto que o Skydiver.
— Ah sim senhorita, é porque ele tem algumas funções a mais que o Skydiver. Vamos sentem-se e experimentem, vocês verão a diferença!
Animados, eles se reclinaram nas poltronas e colocaram o capacete, ativando-o. Como nos demais consoles de VR, seus corpos adormeceram e suas consciências passaram a receber os dados do jogo. Eles se viam percorrendo velozmente um tubo de luz cheio de números azuis que cascateavam em uma torrente de dados. Repentinamente, estavam na mesma sala em que eles entraram, sentados e usando os capacetes. Eles tiraram o aparato de suas cabeças e olharam em volta confusos.
— Ué... será que funcionou Arthur? — Perguntou James.
— Não sei. Cadê aquele senhor?
— Será que o jogo é assim e já estamos dentro dele? — Questionou Julie enquanto procuravam o expositor.
— Acho que se fosse estaríamos com avatares diferentes. Mas como você pode ver, infelizmente o rosto do James continua igual.
Arthur e Julie riram enquanto James fazia caras e bocas por causa do comentário do amigo. Os três estavam se divertindo com a nova experiência.
— Vamos dar uma olhada lá fora para ter certeza. — Ela disse tomando a iniciativa.
Assim que saíram, viram o mesmo ambiente da ExpoGW, com todos os estandes e cores, mas estava vazio. Apesar de não haver ninguém à vista, ouviram uma voz vinda de um letreiro holográfico rosa no teto que disse: “Bem-vindos ao Infinite Bullet!” Era uma voz feminina clássica de jogos. No letreiro, as palavras “Infinite Bullet” flutuavam em giros. Estava claro que já estavam dentro do jogo.
Eles seguiram pelo corredor entre o labirinto de estandes que os levava diretamente ao centro do pavilhão. Quando chegaram, viram um homem alto e magro, com traços orientais e cabelo preto. Atrás dos óculos estavam seus finos olhos digitais. Ele vestia um jaleco branco e roupas pretas. Ao se aproximarem, ele se apresentou:
— Bem-vindos ao Infinite Bullet jogadores! Meu nome é Akira Watanabe, sou o líder da pesquisa do Kairós e criador deste jogo. Darei explicações sobre o jogo e seus objetivos. — A expressão de seu rosto era sem vida e ele tinha um olhar entediado.
— Então você é o criador do jogo? — Perguntou James.
— Eu sou um programa de resposta automática, criado pelo Dr. Akira Watanabe à sua própria semelhança. Posso responder a uma considerável, porém limitada quantidade de perguntas.
— Então nos apresente ao jogo e suas inovações.
— Então explicarei primeiro a diferença deste console para os demais. O Projeto Kairós é uma pesquisa desenvolvida pela JC Corporation. O nome vem do deus grego do tempo oportuno, pois é uma pesquisa voltada à manipulação do relógio psicoativo do cérebro. Ou seja, o capacete que está em suas cabeças não é como os outros consoles FullDiver. Esse, além de ter a tecnologia de imersão, também envia sinais eletromagnéticos ao córtex cerebral, alterando a sua percepção do tempo.
— Isso quer dizer que esse console altera a maneira como nós percebemos o tempo dentro do jogo? –Arthur era fascinado por esses assuntos.
— Precisamente! O relógio psicoativo já costuma fazer isso normalmente, nos dando a impressão de que o tempo passa mais rápido ou lento, dependendo do nosso estado de espírito. O Kairós controla e potencializa essa habilidade do cérebro, alterando a frequência dos pulsos emitidos pelo córtex cerebral para o corpo estriado. A versão que vocês estão utilizando acelera 250 vezes o pensamento. Pesquisas apontam que se pode acelerar até cerca de mil vezes, porém, ainda não conseguimos alcançar esse nível.
— Ok, mas porque você está nos dando essa aula toda? —James já estava impaciente com a longa introdução.
— Quando testamos a versão que acelerava 300 vezes o cérebro aconteceram alguns acidentes — Os três se entreolharam ao ouvir essa palavra — já que o córtex não é responsável apenas pela percepção, mas também pela emoção, surgiram problemas. A alta frequência que induzimos nessa área tornou-a instável. Nesse nível, as menores alterações na emoção das cobaias geravam uma oscilação muito forte nas sinapses, causando uma sobrecarga no cérebro e sequelas irreversíveis, tais como estado vegetativo e, em alguns casos, a morte. Por isso resolvemos fazer experimentos com a versão 250, mas simulando fortes emoções nas cobaias para estudarmos os efeitos e reformularmos a versão 300. Infelizmente, o acidente fez com que não houvesse mais voluntários para os testes. Isso nos obrigou a recorrer a alternativas menos éticas.
— Voluntários? Espera um pouco, você está falando que fizeram isso com humanos? — Perguntou Julie.
— Evidentemente — Respondeu Akira friamente — Concluindo, a falta de cobaias nos levou a criar a Indústria Zeelins como uma empresa de fachada, para conseguirmos atrair “voluntários”, que, no caso, são vocês, que agora participam do experimento.
— O que você quer dizer com experimento? —James agora já estava irritado.
— Quero dizer que vocês três agora estão presos aqui e só sairão após completarem o objetivo do jogo. Dito isso é necessário informá-los que apenas dois de vocês sairão vivos pois o jogo só acaba quando um de vocês for morto pelo outro.
— Não pode ser verdade... — Arthur disse entre risos de histeria — Não! É claro que não é! Isso é ridículo!
— Seu desgraçado mentiroso! — Gritou James avançando com um soco para cima de Watanabe, que permanecia impassível, mas acertando apenas o ar conforme o holograma desaparecia.
Enfurecido, Ele chutou todos os estandes à sua volta, praguejando. Arthur continuava rindo incrédulo e Julie estava estática diante daquelas informações. Quando começaram a se recuperar Akira reapareceu:
— Agora que vocês estão um pouco mais calmos explicarei as regras do jogo. Cada um de vocês receberá um revólver com seis balas. O objetivo do jogo é que um tente matar o outro até que alguém consiga. Quando a partida começar aparecerão NPCs no local, apenas para simular a multidão. As armas são intransferíveis e o espaço de batalha é o pavilhão da feira. O ponto inicial será aleatório a 50 metros dos outros jogadores. Ser morto por essas balas significa morrer na vida real. Eu estarei sempre disponível para quaisquer dúvidas. O jogo começará agora!
Instantaneamente todos foram transportados e cada um apareceu num estande diferente. Ainda estavam chocados, eles viam uma multidão se movimentando do lado de fora. Os NPCs tinham todos o mesmo rosto, tornando fácil diferenciá-los dos jogadores. Arthur foi para o meio das pessoas gritando o nome de seus amigos até ouvir uma resposta e conseguirem se reencontrar.
— E então, o que vamos fazer? — Perguntou James.
— Estamos presos nesse jogo de morte. Precisamos achar um jeito para sair. O que sugere Arthur? — Disse Julie pensativa.
— Deve haver um jeito de sair, algum bug, ou falha.
— Alguma hora as pessoas devem perceber nosso sumiço. Não podemos ficar conectados para sempre. — Ela concluiu
— E se for tudo mentira? Acho pouco provável que a gente morra de verdade se morrer aqui, pode ser apenas parte do roteiro do jogo.
— Não me pareceu mentira James, você sabe que não é impossível nos matar. Afinal, estamos usando capacetes que enviam fortes ondas eletromagnéticas, direto para o cérebro. É uma empresa que ninguém conhece, não acho que isso seja uma improbabilidade.
— Ok, mas e se não for verdade?
— Você quer arriscar? Eu prefiro testar isso aqui: Deslogar! — Gritou Arthur, mas nada aconteceu — Akira! Eu quero sair do jogo, me deslogue!
— Eu avisei que vocês estão presos aqui e só sairão quando eu achar que é a hora de sair, o que nesse mundo pode ser muito tempo — Respondeu Akira, surgindo do meio da multidão — Eu acho melhor vocês começarem a jogar antes que se passe uma hora. — Dizendo isso, desapareceu novamente.
— Parece que estamos realmente presos aqui, senão eu teria sido deslogado assim que dei o comando.
— O que ele quis dizer com “começar a jogar antes que passe uma hora”?
— Talvez seja porque em uma hora as pessoas vão começar a perceber na vida real, como você disse Julie.
— Vocês não se lembram do que ele nos explicou? Esse console muda nossa percepção do tempo e acelera nossos pensamentos 250 vezes. — Relembrou James.
— Então isso quer dizer que uma hora logados serão para nós... mais de 10 dias. Mesmo assim me recuso a jogar.
— Não importa, eu também não jogarei esse jogo. Ficaremos parados aqui. Não vou matar ninguém! — Disse Julie resoluta, e os dois concordaram com ela.
Logo abaixo do letreiro flutuante havia um relógio digital holográfico que marcava o tempo de jogo. Quando se passou uma hora, um alto som de sino ecoou por todo pavilhão, e eles viram todos os NPCs pararem de andar e se voltarem para eles com olhos vermelhos e largos sorrisos. A multidão começou a se aproximar tirando facas dos bolsos e avançando cada vez mais rápido. Imediatamente os três sentiram o pânico inundando novamente suas mentes.
— Julie! — Os dois gritaram desesperadamente ao verem os NPCs agarrarem a amiga, enquanto também eram imobilizados.
Os NPCs começaram a apunhalá-los incessantemente. Eles sentiram dores horríveis. A dor de facas penetrando seus músculos, sendo fincadas várias vezes nas costas e atravessando o estômago. O local perfurado não sangrava, mas ficava com uma marca vermelha brilhante no formato do corte. Eles só podiam ver seus companheiros serem esfaqueados e gritarem de dor.
Ao fim de dez badaladas os NPCs voltaram ao normal e os largaram no chão, definhando de dor, sofrendo com os cortes abertos. Lentamente eles fecharam os olhos e morreram. Instantes depois, o fôlego retornou. Eles acordaram aos gritos lembrando-se do que viram e sentiram, mas não estavam mais sentindo dor. Havia apenas a grotesca lembrança de um horror. Eles tateavam em seus corpos à procura das feridas deixadas, mas elas não estavam mais lá. Ao olhar em volta, notaram estar novamente dentro de estandes. Seus assassinos continuavam a andar lá fora como se fossem consumidores normais. Ainda estavam dentro do jogo, para seu próprio desespero, mas reapareceram em estandes diferentes dos anteriores.
Arthur ouviu um grito de desespero chegar aos seus ouvidos. Era a voz de Julie. Ele saiu correndo em direção ao som, chegando no mesmo minuto que James no estande em que estava Julie, aos prantos.
— Fique calma Julie, vai ficar tudo bem, eu e o Arthur estamos vivos e bem, nem está mais doendo.
— Foi horrível! E como se não bastasse, nós ainda estamos presos aqui. Eu não aguento isso. — Suas lágrimas que escorriam como chuva por suas bochechas marmóreas.
Arthur olhava para a amiga com tristeza. Nunca a tinha visto naquele estado, em desespero. Era algo doloroso de se ver, tantas lágrimas e aflição.
— Akira! O que significa isso? — Perguntou Arthur, saindo do momento de reflexão.
— Eu avisei para vocês jogarem — Disse o holograma, saindo das sombras. — Se o aparelho não detectar uma real intenção de matar dentro do período de uma hora, os NPCs aparecerão e farão isso por vocês, mas depois de morrerem, vocês renascerão no próximo ponto de retorno. O mesmo acontecerá se tentarem se suicidar. É melhor vocês começarem a jogar de uma vez — Concluiu desaparecendo novamente.
— Nós nunca vamos jogar esta porcaria! — Gritou Julie para o guia que desaparecia no ar. — Eu não conseguiria matar um amigo. Seria algo ainda pior de suportar.
— Mas se a cada hora no jogo nós vamos ser mortos, então quando se passar uma hora no mundo real teremos morrido 250 vezes. Eu não sei se somos capazes de aguentar isso.
— Não importa James! — Gritou Julie — Eu não vou matar vocês, não importa o que aconteça!
— Nós vamos conseguir um outro jeito de sair daqui. — Disse Arthur, tentando parecer esperançoso.
Eles tentaram outras formas de sair. Procuraram bugs, tentaram atirar nas paredes, fingiram sentimentos, fugiram dos NPCs, mas não importava o que tentassem, não havia saída em qualquer direção. Quando uma hora se passava, os NPCs se voltavam contra eles com suas faces medonhas e os apunhalavam até a morte, dilacerando seus corpos digitais e causando uma dor abominável, num ciclo sem fim de desespero, óbito e renascimento.
Eles se lembravam de cada apunhalada daquela tortura interminável e sentiam a pressão do relógio que flutuava onipotente acima deles. Após a 13ª morte desde que entraram no jogo, Arthur começava a perder as esperanças.
— Mesmo que continuemos assim, acho que perderemos a sanidade antes de sairmos do jogo e com certeza vai demorar bem mais que 10 dias para conseguirmos sair. — Arthur ouviu o som de uma arma ser engatilhada.
— Desculpem-me, mas eu não aguento mais isso, essa pressão, essas malditas facas! — Ela falou apontando a arma para eles — Eu só quero que isso acabe. Não tem outro jeito. Eu vou ter que matar vocês.
Antes de ela atirar, James conseguiu chutar a arma da mão dela e os dois rapazes saíram do estande, enquanto ouviam o disparo acidental causado pelo impacto com o piso. Eles correram o máximo que puderam e se esconderam num estande mais distante.
— O que deu nela Arthur? Eu achava que eu seria o primeiro a pirar.
— É o desespero, estava na cara que uma hora alguém ia fazer isso. Eu sabia que ela era a que mais estava sofrendo, mas não esperava que ela fosse atirar na gente.
— Eu não quero ter que machucar ela, o que vamos fazer?
— Vamos apenas desarmá-la, não deve ser difícil para nós dois. Vamos cerca-la, você vai para um lado e eu para o outro.
James assentiu com a cabeça e eles espreitaram devagar até achar Julie, que os caçava ensandecida. Eles a cercaram e agarraram pelo braço, imobilizando-a. Sem muita resistência, ela largou a arma e caiu de joelhos.
— Me desculpem, eu não sei o que deu mim — Ela clamava com a mão no rosto. — Estou tão arrependida, mas eu não sabia mais o que fazer, eu só quero ir para casa.
Ela falava entre soluços. Sensibilizados pela dor da amiga, os dois se ajoelharam para abraçá-la. Vendo que estavam distraídos, Julie pegou a arma do chão, rolou para trás e apontou para eles. Boquiabertos, eles apenas puderam sacar suas armas para se defender.
— Pare com isso Julie, nós não somos seus inimigos!
— Então por que vocês estão apontando suas armas para mim também Arthur?
— Porque você quer atirar na gente!
— Vocês não veem que não há outro jeito? Vamos continuar presos nesse inferno se não fizermos o que o Akira quer. Eu só quero acabar com isso. Então abaixem suas armas e me deixem sair daqui.
— Quer saber de uma coisa, eu não aguento isso Arthur! Eu não posso apontar uma arma para ela. Se você quer atirar em mim, atire, não vou resistir.
— É claro que eu não quero atirar em vocês! — Seus olhos começavam a se encher de lágrimas — Mas é preciso! Não tem outra saída!
— Tudo bem Julie, nós entendemos.
James se aproximou da amiga, deixando o cano da arma perto do coração.
— A culpa não vai ser sua, não se preocupe, pode atirar.
— Desculpe James, eu não queria mesmo.
A mão dela tremia, e ela não conseguia olhar para os olhos dele. Por isso, virou o rosto e fechou os olhos para atirar, mas quando ia apertar o gatilho, Arthur intercedeu:
— Espere Julie! Você está certa, alguém precisa morrer, ou ficaremos aqui suspensos no tempo. Mas eu sei que nenhum de nós vai conseguir atirar assim tão friamente. Eu vejo como você está tremendo. — Ele suavemente abaixou a arma dela com suas mãos enquanto falava. — Por isso, vamos terminar esse jogo numa espécie de roleta russa. Ninguém vai ser o culpado. Ninguém vai escolher. Será repentino e aleatório e os únicos culpados serão o Akira e a Sorte.
Julie chorava muito, arrependida por ter ameaçado seus amigos que tanto amava. Aquele jogo da morte os havia levado ao limite da sanidade. Eles concordaram que a roleta russa tripla era a melhor opção, já que de qualquer forma alguém precisava ser morto pela arma do outro. Assim, se despediram, e deixaram o jogo nas mãos da sorte. Deixaram cada uma das armas com apenas uma bala e rodaram os tambores. Apertariam os gatilhos ao mesmo tempo, apontando para a cabeça uns dos outros, formando um triângulo com os braços, até que um disparo funcionasse.
O disparo mortal saiu da arma de James e atingiu Julie.
— Julie... Porque tinha que ser justamente você... eu já estava pronto para aceitar a morte em seu lugar, fui um covarde e você pagou o preço.
— Você não foi o culpado James, nenhum de nós foi. Mas, mesmo assim... mesmo assim... Julie...
Os dois choraram amarguradamente pela morte da amiga. Inconsoláveis, sentiam a dor de perder alguém querido, a apunhalada no coração que gerava um vazio incurável. Akira então reapareceu, interrompendo aquela dor sufocante para descaradamente parabenizá-los pelo fim do jogo.
— Vocês cumpriram sua missão! Com certeza conseguimos vários dados, e agora poderão sair daqui como eu prometi. Para recompensá-los pelo que passaram, receberão um cupom de 70% de desconto nas lojas Zeelins. Mas, antes que partam, eu gostaria de deixar esse raciocínio: Viver depende de ações ou sensações? Afinal, estamos em um mundo virtual, mas tudo que viveram foi muito real. Logo, qual é a diferença entre os dois? Vocês acham que sabem distingui-los, mas o fato é que, se seus sentidos disserem que é real, vocês aceitarão isso.
— Seu desgraçado! — Gritou Arthur — Nos liberte logo seu maldito, já fizemos o que queria, não queremos ouvir mais nada!
Akira então os deslogou, eles se viram de volta ao estande da feira e tiraram o capacete. Olharam para o lado ainda com lágrimas brotando dos olhos, mas viram que sua amiga continuava viva. Os três se abraçaram, mas o estresse fez com que desabassem em lágrimas e ódio. Eles receberam os cupons e, ao saírem, juraram expor aquele absurdo à mídia. Quando olharam os códigos promocionais dos cupons, porém, notaram que não eram aleatórios. Os três amigos se entreolharam com os olhos arregalados ao juntarem os três cupons e verem:

0V3RD4D31R0
J0G034PR0PR
14R34L1D4D3




Jonathan Campos




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O trabalho Infinite Bullet de Jonathan Campos Souza está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em jcampos.escritor@gmail.com.

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